
Átrio exterior do Coliseu do Porto [194?], Domingos Alvão [CPF]
“Montra de histórias” é a exposição que o Coliseu Porto Ageas concebeu para assinalar o 78.º aniversário deste histórico teatro, dando uma nova vida às montras situadas no corredor de acesso à Plateia e Tribuna.
Dividida em seis núcleos, a exposição evoca alguns dos grandes nomes que se apresentaram no Coliseu, nas mais diversas artes. Partindo de desenhos de arquitetura, recortes de imprensa antigos, programas de espetáculos e imagens marcantes, destacam-se objetos históricos. É o caso do móvel dos primeiros camarins, o Livro de Honra com as assinaturas dos artistas que atuaram na sala, máquinas de projeção de cinema, e o Bastão de Molière usado pelo Maestro Pedro Freitas Branco para dar as três pancadas na noite da inauguração.

Vista da plateia no concerto de inauguração do Coliseu, a 19 de dezembro de 1941
Estas montras já tiveram várias valências ao longo da história do Coliseu. Incluíndo, há várias décadas, a venda de produtos de lojas situadas nas imediações da Rua Passos Manuel. Ganham, agora, uma valência museológica, passando a funcionar como uma montra que mantém viva a memória do passado, sob a qual se alicerça o presente e o futuro.

Baixo-relevo da autoria do escultor Henrique Moreira. Podemos vê-lo no foyer do edifício à entrada da Sala Principal e o seu conjunto figurativo representa a música.
No coração da cidade
Rui Moreira *
Quem é portuense – ou quem se fez portuense – guarda sempre do seu Coliseu uma lembrança de grandiosidade, espectáculo e festa. Por si só, estes 75 anos de programação de espectáculos evidenciam um rico extracto da vida cultural moderna e contemporânea. O desfile de protagonistas que por aqui se apresentaram – da música, do cinema, do circo, do teatro, do bailado – chamou ainda, e também, muitos artistas estrangeiros, em circuito pela Europa, ou viajados de propósito para actuar na grande sala de espectáculos do Norte de Portugal.
O Coliseu Porto está no epicentro do antigo bairro dos teatros e dos cinemas em que uns se avistam aos outros e comungam uma paisagem cultural que passámos a relembrar com decrescente nostalgia ao longo dos últimos anos.
Hoje, com o Rivoli, o São João, o Passos Manuel, o Trindade e futuramente o Batalha, o novo Coliseu faz parte de uma constelação de espaços e iniciativas que compõem uma verdadeira centralidade cultural da cidade, a que se juntam muitos outros, mais pequenos mas não menores palcos formais e informais. Palcos onde há sempre artistas, mas para os quais os portuenses – todos – têm vindo a ser convocados.
Nesta exposição, O Coliseu e a Cidade: 75 anos de histórias, articulam-se ícones do Coliseu Porto com documentos do património da Câmara Municipal, do seu Arquivo e da sua Biblioteca: fotografias, desenhos de arquitectura, cartazes, programas de espectáculos e até peças de mobiliário. As memórias encontram ainda reflexo em chamadas e títulos que assinalam a marca festiva desta instituição – “Carnaval só no Coliseu” – e o impacto da vida glamorosa prometida pelo contacto próximo com o show business – “Dilúvio de estrelas”.
Sugerem-se ao público múltiplas leituras de um equipamento que tem características e qualidades muito próprias e, por outro lado, convoca-se a atenção para uma programação de três quartos de século, ecléctica, mas sempre cativante. Àquilo que o palco exibiu, juntamos aspectos menos conhecidos da sua concepção, desenvolvimento e vida interna, que revelam uma história rica e profunda. Partindo do ano de 1941 e seguintes, tempos duros da II Guerra Mundial, o Coliseu passou por êxitos e crises, reerguendo-se entre polémicas e incêndios, essa espécie de má sina dos teatros.
Quisemos que esta exposição se realizasse nos Paços do Concelho, como forma de afirmar que o Coliseu Porto mora mesmo no coração desta cidade, como uma das suas mais queridas casas de cultura e uma das suas mais comoventes causas colectivas, de ontem, de hoje e de sempre.
* Texto escrito para o catálogo publicado por ocasião da exposição comemorativa dos 75 anos anos do Coliseu Porto, “O Coliseu e a Cidade: 75 anos de histórias”, apresentada no edifício dos Paços do Concelho, de 15 de novembro de 2017 a 31 de janeiro de 2018.